quinta-feira, 23 de junho de 2016

Manifesto da Rede Brasileira de Teatro de Rua

LUAS E RUAS CONTRA OS GENOCÍDIOS

LUAS E RUAS, CONTRA OS GENOCÍDIOS. Contra os de cima. Essa luta tem que ser de todos nós.

Junho de 2014. Uma bala. Um policial. Luana Barbosa é assassinada pelo Estado Brasileiro. B.O. realizado. Nada feito. Policial descansa em tranquilidade com sua aposentadoria garantida. Mataram uma artista de rua.
Novembro de 2014. Muitas facadas. Um grupo de latifundiários. Marinalva Manoel é assassinada pelo Estado Brasileiro. B.O. realizado. Nada feito. Latifundiários praticam tranquilos o esporte da tortura e genocídio aos indígenas guarani kaiowá nas ‘agroterras’ de Mato Grosso do Sul. Mataram uma indígena.
Novembro de 2015. 500 km de Lama. Uma multinacional. O rio doce é assassinado pelo Estado Brasileiro. B.O. realizado. Nada feito. VALE e SAMARCO distraem-se felizes, donas de nossos minérios-rios-seres-humanos-doenças-alimentos. Mataram a vida.
Junho de 2016. Golpe. Um grupamento de políticos, juízes e empresários organizados. Um país. A democracia brasileira, que já não contemplava os trabalhadores, é assassinada pelo Estado Brasileiro. B.O. realizado. Nada feito. Os mais ricos comemoram em brindes caros, custeados com nossos suores, o sucesso de suas negociatas. Mataram o que já estava morto.
1500… 1800... 2000... 2016. Golpes, facadas, balas, lama. Uma classe. Trabalhadores são assassinados pelo Estado Brasileiro. B.O. realizado. Nada feito. Burgueses esbanjam seus iates, mansões e palacetes por sobre nossas taperas e miseráveis liberdades concedidas. Mataram-nos, mas não nos calarão. Os nossos mortos tem voz!
No 27 de junho tomaremos as ruas. Somos milhares. Somos invisíveis. Somos mulheres. Somos negras. Somos movimentos. Somos homossexuais. Somos travestis. Somos aprendizes. Somos ladrões de galinhas. Somos gueto e favela. Somos Mariguela. Somos Dandara. Somos periferia. Somos refugiadas. Somos cultura, cultivo. Somos o que é vivo. Somos oprimidas. Somos exploradas. Somos transgêneros. Somos loucos. Somos homens em desconstrução. Somos indígenas em resistência. Somos os de baixo. Somos estudantes e secundaristas. Somos poetas e artistas. Somos um e somos todas. Somos maioria. Discutiremos o que está privado para compreender o que não está público. Tocaremos nas feridas. Abriremos janelas. Arrebentaremos portões. Destruiremos cercas, simbólicas talvez. Jogaremos xadrez. Faremos nossa guerrilha. Tática e estratégia. Tomaremos as ruas como aviso, como ameaça. Sabemos de quem é a taça e esse brinde não estamos mais dispostos a fazer.
Senhores e Senhoras! Se não nos deixarem sonhar, não deixaremos vocês dormirem em paz. Nossos arco-e-flecha erguidos, caras pintadas nos morros, estandartes, tambores, amores, faremos do nosso tempo felicidade, da nossa existência sinceridade e do nosso encontro luta. Tomaremos as cidades. Pra nos manter juntos, pra começo de conversa…

Junho de 2016. Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
XVIII Encontro da Rede Brasileira de Teatro de Rua.